Compositor: Claudio Baglioni
A cenografia
Do seu apartamento
Sombria sacristia da teatralidade
A diplomática máquina de lavar
Dos meus esclarecimentos
Usual amnésia da tranquilidade
A legenda
Das suas atitudes
Sacra liturgia da formalidade
A enciclopédia de autobiografias
Das minhas mudanças, tormentos
Meteorologia da ranzinzice
E da covardia
E nos beijamos lá
Sobre o palco
Da última cena de quem trairá
E mais uma vez já
Está morta a paixão
Dentro de um carro na ribanceira
O empurramos para baixo, mas
Estamos sempre aqui
Histórias em branco e preto
Onde temos só
Um papel fixo como um extra
Nas fileiras de um bolero
E todo o resto é farsa
Nós viemos aqui
Faces estranhas
Dentro dessa cena obscena
Não fazer sem isso
Outro giro de bolero
E um outro gole de veneno
A radiografia
Dos meus juramentos
Vaga profecia da mesquinharia
A coreografia escolha de simetria
Dos seus problemas
Nua rapsódia da sinuosidade
A tapeçaria
Dos meus arrependimentos
Fraca paródia da maturidade
A microcirurgia chinoiserie
Dos seus sentimentos, lamentos
Pura maestria da fragilidade
E da tirania
E se meu coração está
Parado na fronteira
Você se mostra orgulhosa da vaidade
Porque eu estou lá também
Entre suas bugigangas de marfim
A tocar o repertório
De um eterno adeus, mas
Estamos sempre aqui
Presos em um mistério
Que o amor é tudo
Isso é tudo que sabemos
Do amor que é o bolero
Em que nos movemos
Nós estaremos aqui
Entre o falso e o verdadeiro
O bem e o mal
Quando voamos
Digitando um e zero
Em uma realidade virtual
Ou contando o tempo de um bolero